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Cultura e entretenimento 2w6762

O melhor amigo do homem. Mais do que isso, na verdade 6582q

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É verdade quando dizem que o cachorro é o melhor amigo do homem. No entanto, é mais do que isso. Onde o homem vacila, o cão não titubeia. Faz qualquer coisa por seus donos. E o faz, impressionante, mesmo que o beneficiado não o trate bem. Tivesse religião, seria o cão com dono o maior dos cristãos?

Já nós, humanos, tidos como o Centro da Criação, somos desconfiados dos próprios semelhantes, até de amigos que nunca nos fizeram mal. Basta que um deles nos peça, por exemplo, dinheiro emprestado. No mesmo instante entramos em um estado de exceção. Sobrevém uma vacuidade. Um avião que, por correntes de vento e alterações de pressão, despenca no vazio 500 metros de uma vez. Vemos no outro a ânsia pelo nosso sim, e nosso sexto sentido antecipa um fim.

Do Além, Tacitus sussurra: “Mais vale pagar um prejuízo do que um benefício. Porque a gratidão é um peso, e a vingança, um prazer”. O romano falou isso lá pelo ano 100 DC. Para ele, a gratidão era (é) um sentimento ambíguo, como Freud o confirmaria 1.800 anos depois.

A literatura sobre Freud confirma. O Pai da Psicanálise sentia pessoalmente como um fardo o fato de seu mentor, médico Joseph Breuer, ter-lhe emprestado dinheiro nos primeiros anos de sua vida profissional. O fardo cresceu de tamanho depois que Breuer se negou a aceitar que Freud o restituísse. Acabaram por se afastar um do outro.

Há muitos anos um amigo mais velho recomendou: “Cuidado com as pessoas. Elas sempre decepcionam”. Não segui o conselho, ao menos em parte. Pois, como nos acidentes, quando dei por mim, já havia acontecido. Tinha contraído amigos próximos de primeira linha. Contudo, mesmo nas melhores relações, há de fato uma linha invisível que não se deve transpor, sem que se pague um preço moral. Mesmo na intimidade, a desconfiança e o receio permanecem.

Meu pai sempre gostou muito da história de um cachorro chamado Veludo. Uma história de livro que o comovia. O livro, de capa mostarda, tinha o título de Crestomatia, o mesmo que coletânea ou antologia.

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O dono de Veludo decide se livrar dele. Abandona-o em pontos diversos da cidade. Mas ele sempre volta para casa, de olhos baixos. Um dia o homem entra num barco com o cão. À certa altura, segura-o para atirá-lo no rio, no gesto desequilibra-se, cai junto na água e se aflige: não sabe nadar. Veludo o segura pelas roupas com os dentes e o puxa até a margem. O homem é salvo. Já Veludo, exausto pelo esforço, morre. E o homem, vendo-o, primeiro arfante, depois inerte, chora.

A maioria de nós tem uma cota de amigos que de fato não supera em número os dedos de uma das mãos. Mesmo quem perdeu um dedo, se for sensato, ainda caberá na estatística. Requer-se desses amigos que sejam assim: raros. Contudo, nenhum seria capaz de repetir Veludo.

Ao menos não sem sentir que está caindo no vazio.

Talvez uma mãe, um pai sejam capazes, e só.

Jornalista e escritor. Editor do Amigos de Pelotas. Ex Senado, MEC e Correio Braziliense. Foi editor-executivo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Atuou como consultor da Unesco e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Uma vez ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo, é autor dos livros Onde tudo isso vai parar e O fator animal, publicados pela Editora Lumina, de Porto Alegre. Em São Paulo, foi editor free-lancer na Editora Abril.

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Cultura e entretenimento 2w6762

O esquema fenício, novo filme de Wes Anderson 6g4xh

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O diretor e roteirista Wes Anderson é conhecido pelo seu estilo único e marcante, com imagens perfeitamente simétricas, personagens estranhos e um humor bem peculiar. Talvez a grande crítica às suas produções seja exatamente essa, de seu estilo ser sempre o mesmo, como se o cineasta não se renovasse. Porém, entre seus trabalhos mais recentes, nenhum tem tanto estilo quanto O Esquema Fenício.

Na trama, o excêntrico magnata Zsa-Zsa Korda (Benicio Del Toro) já sobreviveu a sucessivas tentativas de assassinato e é pai de nove filhos homens e uma única menina, a freira Liesl (Mia Threapleton). Ele determina que ela seja a única herdeira de seu patrimônio, mas antes, pede a ajuda da filha para garantir que seu projeto de vida finalmente saia do papel. Agora, eles precisarão viajar pelo mundo, acompanhados pelo tutor Bjorn (Michael Cera), a fim de negociar pessoalmente com seus parceiros investidores.

O longa é a sexta parceria entre Wes Anderson e o roteirista Roman Coppola, que iniciou em Viagem a Darjeeling (2007). Vale lembrar que 2023 foi um dos anos mais produtivos de Wes Anderson, que além de lançar Asteroid City nos cinemas, fez um projeto de quatro curtas-metragens com a Netflix, adaptando contos do autor Roald Dahl. Todos são imperdíveis, em especial A Incrível História de Henry Sugar,que rendeu a Anderson o primeiro Oscar de sua carreira.

Mesmo sem a profundidade narrativa de seus outros filmes, o diretor consegue, graças a química entre Benicio Del Toro e Mia Threapleton, explorar um relacionamento genuíno entre pai e filha. Além do ótimo trio principal, vemos participações de luxo de habituais colaboradores do diretor, como Willem Dafoe, Tom Hanks, Bryan Cranston, Jeffrey Wright, Bill Murray, Scarlett Johansson e Benedict Cumberbatch.

Trabalhando pela primeira vez com Wes Anderson, a fotografia de Bruno Delbonnel é fantástica, abrangendo toda a cenografia do filme, que tem locações de encher os olhos, e que já encantam logo na sequência inicial. Destaque para as belíssimas sequências em preto e branco, que mostram o mundo onírico do protagonista. Além disso, a trilha sonora é do lendário compositor Alexandre Desplat, parceiro de Anderson desde O Fantástico Senhor Raposo (2009), e vencedor do Oscar com O Grande Hotel Budapeste (2014).

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Para os que acompanham a carreira do diretor, e fãs como eu, os temas comuns de sua filmografia estão presentes aqui: relações familiares, natureza humana e humor improvável. No entanto, o filme traz dois novos elementos, incomuns em seu universo, o suspense e a ação. Reafirmando sua identidade, embora sem o brilho de produções anteriores, Wes Anderson prova com o visualmente ambicioso O Esquema Fenício que ainda é capaz de entregar boas histórias.

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Brasil e mundo 12h5a

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio 6t4rw

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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