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Cultura e entretenimento 2w6762

Um totem pelotense 2521u

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Tenho amigos que parecem de algodão. Como são nascidos ou vivem há muito na Princesa do Sul (Pelotas), e certamente por a cidade ter conquistado o título de Capital Brasileira do Doce, eles se especializaram e pós-graduaram em convivência social. Sua maior realização é dar-se bem com o maior número possível de pessoas, inclusive de fora do País. Não é que não tenham inimigos. Apenas não os tratam como tal.

Com o tempo e a prática, virou uma filosofia.

O inimigo é alguém a ser conquistado. Sendo assim, eles imprimem método na direção desse desígnio. A mais poderosa investida é a cerimônia dos troféus. É um evento frequente na cidade, tanto quanto o nascer do sol, a merecer ainda o selo de Patrimônio Imaterial do IPHAN. Em recíprocas certificações de qualidades humanitárias, sempre há um contingente pronto a homenagear outro, e este a homenagear em resposta, mais de uma vez e pelos mesmos motivos, que, todos sabem, se resumem a um.

Como 90% dos locais amam homenagens e não recusam as insígnias, dadas por quem quer que seja, aqueles amigos se apresentam para receber seu troféu e, na hora do inimigo pegar o dele, colocam-se em posição estratégica no salão, com a finalidade de serem vistos por aquele enquanto o aplaudem. É fatal – dizem. Na mesma hora as tensões se diluem e, ao longo da festividade, evaporam por completo.

“Aplaudir o inimigo funciona sempre” – eles garantem, porque o gesto tende a ficar gravado como uma graça, uma prova da índole de todo o pelotense que se preza: aquela ânsia por aprovação, um selo renovável de aceitação. Elogiar também é considerado fatal, desde que o elogio seja feito em público.

Estão convencidos de que a vida deve ser embalada pelo espírito verificável em confrarias de charutos, comuns entre homens, ou em congregações de champanhe, que em geral reúnem mulheres. As confluências das emanações, quando se dão em um mesmo casarão tombado, constituem o triunfo máximo de um ideal: o aroma de nobres fumos e a visão das bolhinhas nas taças, seguradas pelo pé, a confirmar a um só tempo as cortesias da nossa alma, adornadas por colunas de escaiola edificadas nos tempos do Império.

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No fim de todos os eventos, comemos docinhos com selo de garantia, legitimamente fabricados no município. Ovos moles, quindins, bem-casados, papos-de-anjo, pelotões de ninhos de ovos e outras heranças portuguesas exibem-se em balcões de vidro por todo lado e, assim como os bons modos, alcançam todos os encontros sociais, até das recentes gerações.

É provável que a onipresença dos apelos à iguaria tenha acrescentado colheradas sem medida ao temperamento da população, aderindo ao caráter em todas as idades como um confeito. Aparentemente saturados da estagnação, jovens emulados pelo espírito empreendedor dos Estados Unidos da América – ainda que não haja uma grama de silício na comparação – chamam a cidade de Candy Valley.

Bilhões de doces não pagam um chip 20 vezes menor que um ovo de galinha, mas não importa. Em reverência à cultura doceira, a formiga continua a ser a nossa mascote identitária, até em forma de monumento – robustas estátuas do inseto pintadas de laranja e com olhos amistosos, mais notáveis que Caringis, são iradas em vários pontos como a um totem.

Ninguém pode nos acusar de não tirar proveito da vida – ela é o ninho.

Jornalista e escritor. Editor do Amigos de Pelotas. Ex Senado, MEC e Correio Braziliense. Foi editor-executivo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Atuou como consultor da Unesco e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Uma vez ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo, é autor dos livros Onde tudo isso vai parar e O fator animal, publicados pela Editora Lumina, de Porto Alegre. Em São Paulo, foi editor free-lancer na Editora Abril.

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Cultura e entretenimento 2w6762

O esquema fenício, novo filme de Wes Anderson 6g4xh

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O diretor e roteirista Wes Anderson é conhecido pelo seu estilo único e marcante, com imagens perfeitamente simétricas, personagens estranhos e um humor bem peculiar. Talvez a grande crítica às suas produções seja exatamente essa, de seu estilo ser sempre o mesmo, como se o cineasta não se renovasse. Porém, entre seus trabalhos mais recentes, nenhum tem tanto estilo quanto O Esquema Fenício.

Na trama, o excêntrico magnata Zsa-Zsa Korda (Benicio Del Toro) já sobreviveu a sucessivas tentativas de assassinato e é pai de nove filhos homens e uma única menina, a freira Liesl (Mia Threapleton). Ele determina que ela seja a única herdeira de seu patrimônio, mas antes, pede a ajuda da filha para garantir que seu projeto de vida finalmente saia do papel. Agora, eles precisarão viajar pelo mundo, acompanhados pelo tutor Bjorn (Michael Cera), a fim de negociar pessoalmente com seus parceiros investidores.

O longa é a sexta parceria entre Wes Anderson e o roteirista Roman Coppola, que iniciou em Viagem a Darjeeling (2007). Vale lembrar que 2023 foi um dos anos mais produtivos de Wes Anderson, que além de lançar Asteroid City nos cinemas, fez um projeto de quatro curtas-metragens com a Netflix, adaptando contos do autor Roald Dahl. Todos são imperdíveis, em especial A Incrível História de Henry Sugar,que rendeu a Anderson o primeiro Oscar de sua carreira.

Mesmo sem a profundidade narrativa de seus outros filmes, o diretor consegue, graças a química entre Benicio Del Toro e Mia Threapleton, explorar um relacionamento genuíno entre pai e filha. Além do ótimo trio principal, vemos participações de luxo de habituais colaboradores do diretor, como Willem Dafoe, Tom Hanks, Bryan Cranston, Jeffrey Wright, Bill Murray, Scarlett Johansson e Benedict Cumberbatch.

Trabalhando pela primeira vez com Wes Anderson, a fotografia de Bruno Delbonnel é fantástica, abrangendo toda a cenografia do filme, que tem locações de encher os olhos, e que já encantam logo na sequência inicial. Destaque para as belíssimas sequências em preto e branco, que mostram o mundo onírico do protagonista. Além disso, a trilha sonora é do lendário compositor Alexandre Desplat, parceiro de Anderson desde O Fantástico Senhor Raposo (2009), e vencedor do Oscar com O Grande Hotel Budapeste (2014).

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Para os que acompanham a carreira do diretor, e fãs como eu, os temas comuns de sua filmografia estão presentes aqui: relações familiares, natureza humana e humor improvável. No entanto, o filme traz dois novos elementos, incomuns em seu universo, o suspense e a ação. Reafirmando sua identidade, embora sem o brilho de produções anteriores, Wes Anderson prova com o visualmente ambicioso O Esquema Fenício que ainda é capaz de entregar boas histórias.

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Brasil e mundo 12h5a

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio 6t4rw

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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