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Cultura e entretenimento 2w6762

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Competente e gratificante, eis dois adjetivos que servem para qualificar a biografia da dupla Kleiton & Kledir escrita pelo pesquisador musical Emílio Pacheco, que desde adolescente acompanha a carreira dos irmãos de Pelotas. Se poderia acrescentar outros adjetivos como minuciosa, exaustiva ou completa. Sim, tudo isso, mas não se trata de obra de fã babão: bancário aposentado com formação em jornalismo, o autor não exagera ao contar em detalhes a história completa da dupla desde sua primeira formação, Almôndegas, em meados dos anos 70.

“Foi realmente uma bênção poder escrever esse livro que já nasce com potencial de vendas pelo prestígio dos biografados”, disse Pacheco, salientando que contou com a colaboração sincera e transparente dos músicos e de familiares, a começar pela possibilidade de consultar recortes de jornal, releases e fotos colecionados ao longo dos anos (desde as primeiras apresentações em escolas) por D. Dalva, a mãe deles.

Graças a isso e a pesquisas, entrevistas e depoimentos dos dois artistas e integrantes de suas troupes pela vida afora, o pesquisador chegou a um resultado fora do comum. Não há canção gravada ou apresentada em shows que não tenha sido dissecada em todos os aspectos: letras, melodias, arranjos, vocais e instrumentistas. É quase um exagero, mas o autor não deixa barato: “Prefiro que o livro seja criticado por ser excessivo e não por ser resumido”.

A biografia começou a ser escrita em 2019 e ficou pronta no final de 2022, a tempo de ter uma tiragem inicial de 100 exemplares colocada à venda sem alarde na banca da Livraria Erico Verissimo nos últimos cinco dias da Feira do Livro de Porto Alegre, em novembro do ano ado.

Depois disso, houve uma noite de autógrafos no Mercado Público de Pelotas no dia 27 de março de 2023, uma segunda-feira em que a dupla estava na cidade após se apresentar no Theatro Guarany. Com divulgação mínima feita pelo autor e a Prefeitura, o evento literário teve pouco público, mas no final da noite o autor, os biografados e familiares confraternizaram num jantar no restaurante Cavalo Branco, ali mesmo no Mercado. Dado o improviso, apenas no dia seguinte à sessão de autógrafos o Diário Popular de Pelotas publicou uma reportagem de página inteira sobre o livro.

Como lembra o autor, desde o começo Kleiton e Kledir se declararam disponíveis para esclarecimentos, mas deixaram bem claro que o projeto era de Pacheco. Sem qualquer contrato com quem quer que fosse, o jornalista mergulhou na pesquisa por sugestão do amigo carioca Marcelo Fróes, ex-editor do International Magazine, um jornal de música para o qual Pacheco escrevia. Fróes era sócio de uma editora que publicaria biografia.

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No meio do caminho, porém, ele se desligou da sociedade editorial, deixando Pacheco a pé em plena pandemia. Sem recuar, o jornalista foi em frente, sem contar com ajuda de custo, cachê ou “avanço” sobre futuras vendas. Na reta final, apenas duas editoras se dispam a bancar a edição. “Optei pela Bestiário porque a outra era de Florianópolis. Achei que seria mais fácil fazer tudo por aqui mesmo”, diz Pacheco, que vive em Porto Alegre. E aqui estamos diante de mais uma luta daví x golias.

Com seu primeiro livro, prefaciado por Juarez Fonseca, o mais ativo jornalista cultural do Sul do Brasil no último meio século, Pacheco enfrenta praticamente sozinho a barra pesada de um mercado editorial em ebulição, no qual livros impressos em papel estão sendo triturados pelas edições digitais, muito mais baratas. Não é por acaso que alguns
gigantes editoriais e livreiros estão sucumbindo. O mar imensurável da internet está absorvendo os tradicionais percentuais do atacado (40% do valor de capa dos livros) e do varejo (30%) com que trabalha(va)m editoras e livrarias. Somando os percentuais acima, o leitor vê que sobram os 20% dos custos gráficos e os 10% dos direitos do autor.

Nada de novo no front literário. Para não cair na vala em que se debatem as pequenas editoras, a Bestiário fixou em 80 reais o preço do livro (394 páginas, sendo 35 de fotos) e optou pela venda pela internet, dando uma colher de chá para apenas duas livrarias de Porto Alegre venderem o livro físico; em Pelotas, a cidade natal dos biografados, e no Rio, onde K&K vivem desde o século XX, o livro físico não está em oferta. Quer
comprar? Vá ao blog do autor ou ao seu Facebook. Ou encomende no site.

Registro final: o livro é muito bom não apenas pelo que conta da obra e da vida da dupla pelotense – dois artistas sem máscaras –, mas por traçar um raro panorama da evolução da Música Popular Gaúcha e sua inserção no quadro geral da MPB. Enfim, é um livro de histórias que se insere na História da Cultura Brasileira. Merece estar em bibliotecas públicas e escolas. Tomara que chegue lá. O retrospecto da carreira dos irmãos Kleiton & Kledir, hoje septuagenários que mantêm a chama juvenil que os projetou, pode ter um sabor relatorial em alguns momentos, mas na realidade será de grande utilidade para pesquisadores, agora e depois.

Não é pouca coisa. Daí a segura profissão de fé do biógrafo: “Mesmo que amanhã ou depois esse livro apareça numa caixa de saldos da Feira do Livro a preço de banana, eu sei que o valor informativo dele não será afetado. Servirá como referência de uma época”.

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Cultura e entretenimento 2w6762

O esquema fenício, novo filme de Wes Anderson 6g4xh

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O diretor e roteirista Wes Anderson é conhecido pelo seu estilo único e marcante, com imagens perfeitamente simétricas, personagens estranhos e um humor bem peculiar. Talvez a grande crítica às suas produções seja exatamente essa, de seu estilo ser sempre o mesmo, como se o cineasta não se renovasse. Porém, entre seus trabalhos mais recentes, nenhum tem tanto estilo quanto O Esquema Fenício.

Na trama, o excêntrico magnata Zsa-Zsa Korda (Benicio Del Toro) já sobreviveu a sucessivas tentativas de assassinato e é pai de nove filhos homens e uma única menina, a freira Liesl (Mia Threapleton). Ele determina que ela seja a única herdeira de seu patrimônio, mas antes, pede a ajuda da filha para garantir que seu projeto de vida finalmente saia do papel. Agora, eles precisarão viajar pelo mundo, acompanhados pelo tutor Bjorn (Michael Cera), a fim de negociar pessoalmente com seus parceiros investidores.

O longa é a sexta parceria entre Wes Anderson e o roteirista Roman Coppola, que iniciou em Viagem a Darjeeling (2007). Vale lembrar que 2023 foi um dos anos mais produtivos de Wes Anderson, que além de lançar Asteroid City nos cinemas, fez um projeto de quatro curtas-metragens com a Netflix, adaptando contos do autor Roald Dahl. Todos são imperdíveis, em especial A Incrível História de Henry Sugar,que rendeu a Anderson o primeiro Oscar de sua carreira.

Mesmo sem a profundidade narrativa de seus outros filmes, o diretor consegue, graças a química entre Benicio Del Toro e Mia Threapleton, explorar um relacionamento genuíno entre pai e filha. Além do ótimo trio principal, vemos participações de luxo de habituais colaboradores do diretor, como Willem Dafoe, Tom Hanks, Bryan Cranston, Jeffrey Wright, Bill Murray, Scarlett Johansson e Benedict Cumberbatch.

Trabalhando pela primeira vez com Wes Anderson, a fotografia de Bruno Delbonnel é fantástica, abrangendo toda a cenografia do filme, que tem locações de encher os olhos, e que já encantam logo na sequência inicial. Destaque para as belíssimas sequências em preto e branco, que mostram o mundo onírico do protagonista. Além disso, a trilha sonora é do lendário compositor Alexandre Desplat, parceiro de Anderson desde O Fantástico Senhor Raposo (2009), e vencedor do Oscar com O Grande Hotel Budapeste (2014).

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Para os que acompanham a carreira do diretor, e fãs como eu, os temas comuns de sua filmografia estão presentes aqui: relações familiares, natureza humana e humor improvável. No entanto, o filme traz dois novos elementos, incomuns em seu universo, o suspense e a ação. Reafirmando sua identidade, embora sem o brilho de produções anteriores, Wes Anderson prova com o visualmente ambicioso O Esquema Fenício que ainda é capaz de entregar boas histórias.

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Brasil e mundo 12h5a

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio 6t4rw

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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