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Cultura e entretenimento 2w6762

Jornalistas, em seu estranho ofício 3n4z2z

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Hoje é Dia do Jornalista. Implico um pouco com essas Datas. É tanto dia de tanta coisa que penso se ainda não inventarão o Dia Mundial de Coisa Nenhuma, o que não deixaria de ser uma boa definição para a atividade de jornalista.

Como dizia Arnaldo Jabor, jornalista é uma esponja que fica se nutrindo e se livrando da vida dos outros. Depois de décadas de trabalho, seu legado não é visível.

Jornalista opera por corrente elétrica, uma grande voltagem que nem sempre dá em luz. É uma profissão estranha. Há quem veja nela um ótimo recurso para fugir de si mesmo, pela variedade de temas em que o jornalista mergulha e abandona, relativos sempre à vida dos outros, com frequência e rapidez de impressionar.

Diferente do médico, que conserta um coração; de um professor, que alfabetiza e forma; de um operário, que constrói um edifício, jornalista nada conserta, não educa, nada constrói, embora goste de pensar que sim. Sua matéria-prima é impalpável e efêmera. Acontecimentos em forma de imagens e de palavras, superadas por outras imagens e palavras no mesmo dia ou hora.

Imagine o orgulho de um médico, de um professor, de um operário. Para ficar numa categoria, imagine a exaltação que sentiram os últimos operários da Muralha de China, no dia da inauguração! Já jornalista, de que se orgulha mesmo, no final das contas?

Jorge Luis Borges dizia que o jornalista sonha escrever para a posteridade, mas o faz para o esquecimento. Talvez por isso andemos agora querendo interferir nos rumos da história.

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Originalmente jornalista existe para registrar a história que outros fazem. Agora resolvemos fazer história com as próprias mãos, como se fosse justiça (até pode ser, mas, com licença, hehehe…). História na marra, por conta própria ou com o aval dos patrões. A frustração parece estar se tornando inável.

Jornalistas são indagadores insatisfeitos com olhos atentos a furos, desconfiados. Ninguém vive assim. Pessoas normais vivem de considerações amplas, conjuntos de obras. Somos chatos porque, às vezes me parece, no fundo há algo de errado conosco. Como pode ser feliz uma pessoa sempre pronta a denunciar uma imperfeição, se ela é a regra na vida?

Somos chatos. E tão apressados que, muitas vezes, acabamos, nós mesmos, sendo flagrantemente imperfeitos, infelizes nas palavras, arrogantes nos julgamentos.

Aproveitando que é época de Páscoa, pessoas normais têm certeza de que Jesus ressuscitou no Terceiro dia. Jornalistas, não: “Pois dizem que ressuscitou… Precisamos apurar. Avisem o pessoal da pauta.” É desgastante.

Talvez por isso muitos jornalistas sonhem abandonar a profissão e se dedicar à ficção ou ao registro em livro de acontecimentos marcantes da história, um trabalho do qual possam se orgulhar e até legar.

Mário Vargas Llosa, que foi jornalista e virou romancista, diz que o escritor é uma pessoa que não aceita a realidade, por isso se dedica a reconstruí-la na ficção, buscando preencher as insuficiências da vida, que, como se sabe, são muitas – e eternas. Me parece uma saída honesta, reparadora, embora solitária. Na escritura, porém, pode-se sentir construindo alguma coisa. Mais: talvez se possa contribuir para educar uma mente interessada, talvez confortar um coração.

No tempo da faculdade, professores indicavam o livro ‘A Regra do Jogo’. Nele, o diretor de redação Cláudio Abramo (foto) escreveu sobre o ofício: “Sou jornalista, mas gosto mesmo é de marcenaria. Gosto de fazer móveis, cadeiras, e minha ética como marceneiro é igual à minha ética como jornalista – não tenho duas…”. Em outro trecho, diz: “O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter.”

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ados tantos anos, está claro, a atividade é mais que imperfeita, como a vida, feita de idas e vindas, constantes quedas e reabilitações. Podemos cometer erros, nos perder. Nada que um Rehab não conserte, se o sujeito se dispõe a superar-se.

Gosto de pensar no jornalista como uma pessoa capaz de salvar uma vida com algumas palavras. Se não a de outro, a própria, mas como é difícil.

Jornalista e escritor. Editor do Amigos de Pelotas. Ex Senado, MEC e Correio Braziliense. Foi editor-executivo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Atuou como consultor da Unesco e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Uma vez ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo, é autor dos livros Onde tudo isso vai parar e O fator animal, publicados pela Editora Lumina, de Porto Alegre. Em São Paulo, foi editor free-lancer na Editora Abril.

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Cultura e entretenimento 2w6762

O esquema fenício, novo filme de Wes Anderson 6g4xh

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O diretor e roteirista Wes Anderson é conhecido pelo seu estilo único e marcante, com imagens perfeitamente simétricas, personagens estranhos e um humor bem peculiar. Talvez a grande crítica às suas produções seja exatamente essa, de seu estilo ser sempre o mesmo, como se o cineasta não se renovasse. Porém, entre seus trabalhos mais recentes, nenhum tem tanto estilo quanto O Esquema Fenício.

Na trama, o excêntrico magnata Zsa-Zsa Korda (Benicio Del Toro) já sobreviveu a sucessivas tentativas de assassinato e é pai de nove filhos homens e uma única menina, a freira Liesl (Mia Threapleton). Ele determina que ela seja a única herdeira de seu patrimônio, mas antes, pede a ajuda da filha para garantir que seu projeto de vida finalmente saia do papel. Agora, eles precisarão viajar pelo mundo, acompanhados pelo tutor Bjorn (Michael Cera), a fim de negociar pessoalmente com seus parceiros investidores.

O longa é a sexta parceria entre Wes Anderson e o roteirista Roman Coppola, que iniciou em Viagem a Darjeeling (2007). Vale lembrar que 2023 foi um dos anos mais produtivos de Wes Anderson, que além de lançar Asteroid City nos cinemas, fez um projeto de quatro curtas-metragens com a Netflix, adaptando contos do autor Roald Dahl. Todos são imperdíveis, em especial A Incrível História de Henry Sugar,que rendeu a Anderson o primeiro Oscar de sua carreira.

Mesmo sem a profundidade narrativa de seus outros filmes, o diretor consegue, graças a química entre Benicio Del Toro e Mia Threapleton, explorar um relacionamento genuíno entre pai e filha. Além do ótimo trio principal, vemos participações de luxo de habituais colaboradores do diretor, como Willem Dafoe, Tom Hanks, Bryan Cranston, Jeffrey Wright, Bill Murray, Scarlett Johansson e Benedict Cumberbatch.

Trabalhando pela primeira vez com Wes Anderson, a fotografia de Bruno Delbonnel é fantástica, abrangendo toda a cenografia do filme, que tem locações de encher os olhos, e que já encantam logo na sequência inicial. Destaque para as belíssimas sequências em preto e branco, que mostram o mundo onírico do protagonista. Além disso, a trilha sonora é do lendário compositor Alexandre Desplat, parceiro de Anderson desde O Fantástico Senhor Raposo (2009), e vencedor do Oscar com O Grande Hotel Budapeste (2014).

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Para os que acompanham a carreira do diretor, e fãs como eu, os temas comuns de sua filmografia estão presentes aqui: relações familiares, natureza humana e humor improvável. No entanto, o filme traz dois novos elementos, incomuns em seu universo, o suspense e a ação. Reafirmando sua identidade, embora sem o brilho de produções anteriores, Wes Anderson prova com o visualmente ambicioso O Esquema Fenício que ainda é capaz de entregar boas histórias.

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Brasil e mundo 12h5a

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio 6t4rw

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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