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Brasil e mundo

“A mágica das associações de bairro”. Por Fabiano de Marco

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Fabiano de Marco, empresário, sócio na Idealiza Urbanismo.

Acredito que o diagnóstico dos problemas nas cidades não seja muito controverso nem novo, as queixas sempre envolvem insegurança, falta de limpeza, ausência de jardinagem, manutenção ruim de luminárias e mobiliário urbano, quando esses existem.

Fabiano de Marco

Vivemos o resultado do parcelamento do solo, em que aproximadamente 40% das áreas são públicas, com gestão precária, e 60% com istração privada, onde o individualismo impera.

Quanto aos trechos públicos, o comando é centralizado nos Executivos Municipal (jardinagem, guarda municipal, limpeza, ensino fundamental), Estadual (segurança, ensino médio, tratamento de água, esgoto, drenagem e justiça) e Federal (segurança, ensino superior e e justiça ).

Não preciso perguntar quem consegue agenda com o Prefeito de sua cidade ou com o Secretário Municipal. Com o Governador ou o Presidente então é impossível. Digo isto para explicitar o distanciamento entre a gestão e a ponta do problema na rua, na frente da sua casa.

O financiamento público se faz por tributos não vinculados (não existe o dever do Estado de retribuir a quem paga na mesma proporção), ISS, ITBI e IPTU para o Município; ITCMD e ICMS para o Estado; e contribuições, impostos de Importação e de rendapara a União. Esta é a estruturadistante – responsável pela gestão da praça em frente da sua casa.

Há uma clara sensação entre a maioria dos contribuintes de “pagamento sem devida contrapartida por parte do poder público”. O Poder Judiciário e a Força Pública são presentes somente em casos extremos, como gravíssima e continuada perturbação do sossego e quando a vida está em perigo.

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A primeira experiência que tive com uma associação de bairro se deu em 2009, em Barueri. Ao visitar os prédios comerciais (com o público) dos empreendimentos da Alphaville Urbanismo, fui abordado por um segurança. A impressão inicial foi de que seria multado, mas para minha grata surpresa a abordagem visou tão somente me avisar que o vidro do carro ficara aberto. Ali um oxigênio entrou na minha cabeça, abrindo um universo que até então me era desconhecido.

Naquela época, envolvido com a construção de condomínios fechados, eu recebia vigorosas críticas por estar construindo guetos homogêneos, renegando o espaço público. Era verdade, mas, ao mesmo tempo, eu não acreditava na viabilidade comercial de espaços abertos, por todos os problemas acima citados, diante dos quais me sentia impotente.

Foi aos poucos, lendo sobre a ferramenta das Associações de Bairro, que ei a vislumbrar uma luz no fim do túnel.

Visitando empreendimentos nos Estados Unidos (excursão organizada pela ADIT), ouvi de um developer uma frase emblemática: “Aqui o consumidor pergunta se existe Associação de Bairro antes de visitar o imóvel. Muitas vezes é condição para o negócio.” Foi então que caiu a ficha de que poderíamos, enquanto empresa, atacar os problemas de gestão, sem a necessidade de consertar um país inteiro antes de trocar uma lâmpada na frente de casa.

Consultamos pessoas que estudavam o tema da Associação Comunitária com entusiasmo; e, aqui, faço parênteses para citar o Dr. Sérgio Parisi, a Dra. Regina Betemps e a Dra. Mariângela Machado, na expectativa de reconhecer seus préstimos indispensáveis às nossas crenças atuais.

Afinal de contas, qual a mágica das Associações de Bairro? A começar pela gestão localizada, o morador tem a quem se reportar com uma simples caminhada até uma reunião presencial com o gerente da Associação de Bairro. É ele quem faz as vezes do prefeito na escala micro.

A contribuição financeira para a associação, diferentemente dos tributos convencionais, é vinculada e sem fins lucrativos. E a prestação de contas é transparente, bastando um clique. A “complexidade” é infinitas vezes menor que o exame das contas públicas, desconhecidas, eu diria, por 100% da população e até pelo Ministro da Fazenda.

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A consequência é o despertar de um sentimento de comutatividade na relação entre o associado e a associação, um genuíno senso de comunidade.

A equipe de jardinagem é permanente, sabe de quantos em quantos dias a grama precisa de novo corte, no inverno e no verão, aumentando e diminuindo de tamanho a depender da estação. A segurança, embora sem poder de polícia, abrange camadas pré-ilicitude, com a presença de agentes sociais, que fiscalizam o descumprimento de regras de trato social, como largar uma bicicleta no lugar errado, um papel no chão ou falar alto demais. A mobília e a iluminação são trocadas instantaneamente ao final de uma ronda de vistoria diária, por uma simples pessoa caminhando.

Fotografias do trabalho da Associação Parque Una Pelotas. Por Marcel Streichel

O vínculo jurídico entre os associados viabiliza as penalidades istrativas, hoje juridicamente impossíveis de serem aplicadas pela Guarda Municipal, como, por exemplo, uma multa por mau comportamento.

As regras do estatuto da associação, por configurarem um contrato entre os associados, permite o incremento de disciplina e ordem no convívio social em espaços abertos, tal como já ocorre em qualquer condomínio-clube ou loteamento fechado.

Não se diga que estamos falando de luxos, iníveis às classes menos abastadas, porque os ganhos de escala, frutos do financiamento coletivo, derrubam enormemente os custos envolvidos na solução de problemas e representam tão somente uma pequena fração daqueles tributos citados no início, menor do que o valor do IPTU, por exemplo, ou uma fração inferior a 1/4 do custo condominial.

Há um lugar mágico em solo brasileiro onde uma associação atende o bairro de ponta-a-ponta, desde a década de 70, em proporções físicas e econômicas maiores até do que o Ente público local. Chama-se Riviera de São Lourenço, no Município de Bertioga, onde 80.000 pessoas convivem numa praia de 4,5km de extensão e recebem água tratada de forma ininterrupta, esgoto tratado integralmente, serviços de segurança, jardinagem, manutenção dos espaços públicos e até de salva-vidas enquanto os associados ou até mesmo os não associados dão um pulo no mar em busca do direito constitucional ao lazer.

Ver o serviço oferecido à população da Riviera, em recente período de descanso em que me hospedei em um apartamento, me proporcionou uma emocionante sensação de que as coisas são possíveis, sim, e de que há sempre uma luz no fim do túnel quando assumimos como nossas as responsabilidades pelo bem estar comunitário. Eis a mágica!

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Brasil e mundo

Pergunte à Alexa, é um caminho sem volta

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O mundo tem parecido uma grande confusão. É difícil decifrar o tempo vivendo nele, mas aquela sensação tem a ver com o aumento da produtividade. Em séries antigas de tevê, como Jornada nas Estrelas e Perdidos no Espaço, os personagens não fazem trabalho braçal. Máquinas e robôs fazem tudo. É o que está acontecendo.

Nos últimos anos, a produtividade acelerou muito, assim como o desemprego. Tudo agora é virtual, no celular. Os bancos, os escritórios, dois exemplos, não têm mais quase funcionários. A gente sabia que ia acontecer, como sabe que, logo ali, não se vai mais usar gasolina para mover veículos. De uma hora pra outra a mudança vem, o mundo vira do avesso e revoluciona a vida das pessoas.

Antes a economia era estável, por quê? Porque tudo era essencial. Hoje, com a produtividade alta, a maioria das coisas deixou de ser essencial. Agora compramos uma caneta por achá-la bonita, não porque precisamos dela. Roupas, a mesma coisa. Muitas coisas estão assim. Carros, tendo transporte de aplicativo, pra que comprar?

Quando há uma crise, a economia tranca porque 95% das coisas que compramos foi porque nos convenceram a comprar. Não são necessárias, e, ainda mais depois da pandemia, nos demos conta de que amos muito bem sem elas.

Nesse mundo novo, estamos sendo obrigados a inventar necessidades pra justificar o nosso trabalho. Mais ou menos como o barman que faz malabarismo com os copos pra se diferenciar.

Se a economia tranca e resolvemos economizar, só compramos comida e água; é o que todo mundo faz. Então, a economia tem que ser muito mais bem istrada, para não ter esses solavancos. Tudo mudou, e isso ficou mais claro nos últimos cinco anos. É como a água que vai batendo num castelo de areia, numa hora ele cai.

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Nos próximos anos, vão ocorrer mais modificações.

Estão tentando obter energia por fusão nuclear. Já estão conseguindo, falta controlar a reação, para poder concentrá-la.

Uma quantidade mínima de hidrogênio, elemento mais abundante no universo, se transforma numa quantidade colossal de energia, e limpa. Assim, uma pequena usina — instalada digamos em São Paulo — poderá fornecer energia para todo o Brasil, a custo baratíssimo.

Quando controlarem o H, vão acabar as hidrelétricas, acabar a extração do petróleo para uso combustível. Petróleo poderá ser usado ainda, mas na petroquímica (nylon, plástico etc.).

Já estão fabricando em laboratório até alimentos ricos em proteína como substitutos da carne, e mais baratos. Daqui 20, 30 anos, áreas onde hoje se planta e há gado vão ficar pra vida selvagem. Vastas áreas serão devolvidas à natureza. Dois terços do Brasil, estima-se.

Outra coisa que vai evoluir é a IA, ela sabe tudo. Pergunte à Alexa. Ela te responde tão rápido, que nem precisa pensar. IA, ela sabe tudo. Pergunte à Alexa.

Ela te responde tão rápido, que nem precisa pensar.

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A liberdade sagrada das redes

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Noutro dia escrevi um texto sobre a cisão no vínculo entre as pessoas e o meio em que vivem, responsabilizando parcialmente as novas tecnologias de comunicação. Disse: “Se por um lado as tecnologias deram voz à sociedade, por outro, nos têm distraído da concretude do mundo, de interação mais hostil, levando-nos a viver em mundos paralelos”. E: “No mundo moderno, não habitamos mais exatamente nas cidades, mas sim no mundo virtual, um refúgio, retroalimentado pelo algoritmo, onde não há frustrações, mas sim gratificações instantâneas”. Bem, esse é um lado da questão. E não é novo.

Desde Freud se sabe que, diante do trauma, a criança dissocia-se para á-lo, refugiando-se na neurose, uma estratégia de defesa. Pois, assim como a criança abalada pelo trauma, as pessoas, diante das escalabrosidades do mundo concreto, fazem igual: elas podem se retirar para o mundo virtual, guardando, daquele, uma distância.

O outro lado da questão, o reverso da moeda, é que, sem as novas tecnologias de comunicação, a voz traumatizada da sociedade permaneceria atravessada na garganta, sem chance de extravasar-se.

A possibilidade de expressão liberou uma carga de justos ressentimentos contra os limites da política, as injustiças, o teatro social. De súbito, tivemos uma ideia do tamanho da insatisfação com os sistemas de vida, ando publicamente a protestar, em alguns casos chegando à revolução, como ocorreu na Primavera Árabe, onde as redes sociais cumpriram um papel fundamental.

Pois não é por outra razão que os donos do antigo mundo estão incomodados e querem controlar a liberdade de expressão, especialmente a velha imprensa, os monopólios empresariais, os sistemas políticos totalitários. Enfim, todos aqueles para quem a internet e as redes sociais ameaçam seu poder, ao por de pernas pro ar as certezas convenientes sobre as quais se assentaram.

Fato. As inovações desarranjam os mercados e os modos de vida. Toda inovação faz isso. É o preço do progresso. Mas, assim como é impossível voltar ao tempo do telégrafo (imagine o desespero nas Bolsas de Valores), é impensável retroagir ao mundo exclusivo da prensa de Gutenberg. Porque as descobertas, afinal, permitem avançar nos arranjos produtivos: propiciam economia de tempo, dinheiro e, no caso da comunicação, ampliam a liberdade, seu bem mais precioso. Pode-se dizer que não estávamos preparados para tanta liberdade súbita, e que venhamos, neste momento, usando-a “mal”. Contudo, parece razoável dizer que, à medida que o tempo e, estaremos mais e mais preparados para lidar com a liberdade e seus efeitos.

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Com todos os defeitos que a vida tem, é preferível mil vezes, ao controle da palavra, a liberdade de dizê-la. Quem pode afirmar (ou julgar) o que é verdadeiro e o que é falso, senão as pessoas mesmas, em última análise, de acordo com suas percepções e as pedras em seus sapatos? Pois hoje, depois de provarmos a liberdade trazida pelas novas tecnologias, mais do que nunca sabemos que a imprensa, em sua mediação da realidade, é falha, e como o é!

É interessante (e triste) ver como, após a criação da internet e das redes, grande parte da imprensa, ao perder o monopólio da verdade, se vêm tornando excessivamente opinativa e crítica das novas tecnologias. Deveria, sim, era aprimorar-se no trabalho para prestá-lo melhor. Acontece que — eis o ponto — como a velha imprensa não é livre de fato, como depende do financiador, muitas vezes de governos, ela vê nas novas tecnologias de ampla liberdade uma ameaça à velha cadeia de produção acostumada a filtrar o que valia ser dito, e o que não valia, em seu óbvio interesse, hoje nu, como o rei da história.

Além de tudo, há essa coisa interessante: a percepção. Para alguns pensadores do novo mundo, o que chamamos de realidade é uma simulação, no que concordo. Segundo eles, cada um de nós só tem o às coisas através dos sentidos (olfato, visão, tato, audição, paladar). Porém, como cores, cheiros, paladares etc. não existem no mundo concreto (são imateriais), sendo portanto simulações percebidas pelos sentidos (pessoas veem cores em diferentes matizes, quando não divergentes, como os daltônicos), aqueles pensadores sustentam que o mundo como o percebemos seria resultado exclusivo dos nossos sentidos. Assim, a única coisa real seria a razão. É o que diz Descartes, para quem a razão é a única prova da existência. “Penso, logo existo”.

Como amos o mundo virtual pelos mesmos sentidos com que amos o mundo concreto, estando entrelaçados, não haveria diferença entre eles. Logo, não deveríamos condenar o mundo virtual, mas sim o explorarmos melhor. Eu acredito que é assim.

Uma vez provadas as inovações, não é possível retroagir. Podemos, isso sim, é refinar, em decorrência delas, o nosso comportamento.

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