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Brasil e mundo

IPHAN tombou conjunto arquitetônico. Elevou doce ao status de patrimônio. E daí?

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O doce de Pelotas foi posto como Patrimônio Imaterial da União Federal, junto do conjunto arquitetônico da cidade, que foi alçado ao status de patrimônio tombado pelo IPHAN. Questiono: e daí? Fico pensando se os membros do IPHAN caminharam pelas ruas de Pelotas e viram o estado que alguns casarios se encontram. É triste, é lamentável.

Cito como primeiro exemplo o prédio à diagonal da Prefeitura Municipal, onde funcionava a Secretaria de Finanças. Vidros quebrados, fachada deteriorada pelo tempo e um profundo olhar de canto de olho por parte da Prefeitura, e não me refiro apenas à gestão atual, senão às anteriores, uma vez que o edifício está em situação calamitosa há alguns anos.

Fosse eu membro do IPHAN negaria para Pelotas a condição de ter o seu conjunto arquitetônico tombado por não haver zelo.

Como pode-se conjecturar que uma cidade da dimensão de Pelotas tenha uma poluição visual causada não só pelas placas e luminosos, mas também pela inexistência de um projeto consistente de iluminação pública, preferencialmente com a fiação totalmente subterrânea. Isto deveria estar presente em todo o centro da cidade, conquanto toda a parcela histórica da cidade agora está tombada nos registros do IPHAN.

Há outros fatores que eu poderia somar, tal como o “arranha céu” inacabado da Rua XV de Novembro, o Theatro Sete de Abril, dentre outros casarios espalhados pelo centro.

Claro, ficamos sempre com a cereja do bolo, ou, no nosso caso, com a cereja sobre um doce artesanal, cuja propriedade imaterial também ou a ser considerada patrimônio nacional, constando nos registros do IPHAN. Mas segue a pergunta: e daí?

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Os doces na Fenadoce são mais caros do que os cobrados pelos mesmos doceiros no centro da cidade. Não existe uma cultura do doce tal como em outras cidades há a cultura do vinho, por exemplo.

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Chega a ser de doer pensar em ir até o Centro de Eventos da Fenadoce e pagar alguns centavos a mais, somando-se a isto o custo do ingresso.

Há quem me diga que o problema não são os doces, mas o interesse em se visitar os estandes da indústria e do comércio. Ora, penso eu, se o nome da Feira é Fenadoce, as estrelas deveriam ser os doces, ou estou errado?

Da mesma maneira há um problema a ser resolvido pela gestão pública. O primeiro é o desafio, quase que impossível, de tornar o doce de Pelotas como uma atração capaz de trazer turistas para a cidade.

Cito como paradigma uma iguaria da região da Provance, na França, chamada de Calisson. Trata-se de um doce em forma de losango, à base de castanhas e frutas cítricas. Seu processo é tão complexo que são poucos os doceiros de lá que conseguem produzir um Calisson ao mesmo tempo crocante por fora e macio por dentro e não é esta guloseima que leva os turistas para a região, pelo contrário, a atração são os vinhos, especialmente os Rosé.

Note o leitor que estou usando um exemplo isolado, a fim de comprovar que a cultura de um doce artesanal é difícil de alavancar o turismo como um todo.

Ela é um chamarisco, sim, é fato, mas não algo capaz de convencer uma família de Porto Alegre a pegar uma BR-116 cada vez mais perigosa, com obras inacabadas, pagar uma quantia alta de pedágio, sem contar o combustível, para vir a Pelotas e degustar dos doces.

Há de se explorar o turismo, todavia tento me colocar no lugar do turista quando ele está em frente ao Paço Municipal.

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Se ele olhar levemente para a direta verá uma obra inacabada, a qual sequer deveria estar ali, pois estamos falando de um elefante branco no centro histórico de uma cidade cujo conjunto arquitetônico foi tombado pelo IPHAN. Quantas incongruências fáticas numa só oração.

O mesmo turista, se olhar para a sua esquerda, levará um susto ao notar que um dos casarios mais imponentes do centro histórico está jogado às traças. É lamentável, mas é a verdade.

Agora, há uma solução?

Sim, entregar todos os casarios para a iniciativa privada, com o compromisso de manter as suas fachadas intocadas.

Lembro bem que um dos grandes desejos do meu Pai era comprar um destes para fazer dele a sua morada. Infelizmente isto não seria possível numa cidade cujo pensamento é retrógrado, pois um tombamento não vai resolver o ime do Sete de Abril, não vai atrair mais turistas para degustar os doces daqui, os quais julgo serem os melhores que já comi, e da mesma forma vai dificultar que entes privados façam uso dos prédios para finalidades próprias.

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5 Comments

5 Comments

  1. Jotapê

    21/07/18 at 01:27

    Enquanto Pelotas se enxergar presunçosamente como umbigo cultural do mundo, não irá a lugar nenhum. Se é certo que o patrimônio histórico-arquitetônico ainda existente deve ser preservado – e deve -, nós pelotenses precisamos entender que esse patrimônio é ridículo para justificar turismo que aporte resultado econômico relevante. Quando muito e com muito esforço serve como motivação de turismo microrregional. E de sobra para a inflação dos egos provincianos.

    Arquitetonicamente, Montevideo e Buenos Aires são infinitamente mais ricas, daí que esperar atrair los hermanos, com nossas poucas riquezas e muitas misérias, é um sonho deletério. Do norte próximo, a capital do Estado também é arquitetonicamente muito mais atrativa. Isso para manter-se no aspecto arquitetônico, e histórico. No mais, que diferencial Pelotas oferece? Doces? Uma bela tradição. Que as pessoas consomem e levam quando estão em Pelotas, mas não é crível que venham a Pelotas tomar chá com Pastel Santa Clara ou degustar Camafeu… Arriscaria a dizer que, nesse nicho, o cliente externo mais assíduo é o pelotense que volta aos pagos para visitar os seus…

    Do dito, e para não me estender, Pelotas tem que parar de viver da letargia do ado e investir na modernização da cidade, na inovação na produção de bens e serviços, na ambição por uma cidade próspera, atrativa, bela, despertadando, além fronteiras, a inveja de suas novas virtudes.

    Mas, onde acharemos líder, cérebros, energia, recursos econômicos e financeiros? E, o principal, unidade de alma? Esta então de escassa possibilidade depois que se inoculou, cada vez mais insistentemente, durante os últimos 3/4 de século, nas classes populares, que mal começavam a tomar o gosto pela mobilidade social, as pragas do assistencialismo e da luta de classes.

  2. JOAO JG GARCIA

    31/05/18 at 22:51

    PELOTAS,segundo Lourenço Cazarré tem de melhor é seu povo,sua tradição.
    Também acho cosmopolita sem perder o charme.Mas,a deterioração do casario deve-se a uma política que deveria conserva-los.O Tombamento Histórico,joga uma luz sobre os demais.E quanto charme temos nesses casarões!
    Existe isenção para a conservação?um incentivo á conservá-los?
    Podemos começar a pensar num eio cultural pelo circuíto dos casarões.Um muito da história vive ali.
    Podemos juntos cobrar isso das autoridades!

  3. Marco Antônio Perelló Moraes

    27/05/18 at 15:00

    Boa tarde Gustavo. Levantaste um ponto sobre a Fenadoce, com relação as mostras da Indústria e Comércio na feira. Trabalhei muito tempo em uma associação de criadores de gado, e frequentei muitas exposições por conta do serviço.
    Com isto reforcei uma idéia antiga: “O que realmente move as feiras, são os pavilhões de indústria e comércio.” O nome principal é apenas para diferenciar uma da outra. E são todas chatas e sem graça. Eu envolvia-me no meu serviço, e não via mais anda da feira. Podes visitar várias que existirem na região, e vais constatar o que escrevi. Quanto aos prédios, realmente sem comentários. É vergonhoso o que vemos.

  4. Paulo Castro

    20/05/18 at 15:41

    Corroboro a opinião do Daniel. E lembro que qualquer doce, bem fraquinho, aqui em Curitiba, custa em torno de R$ 5,00 a 6,oo. Portanto, nossos doces de Pelotas, não estão tá caros assim… Mas concordo totalmente com a questão da BR-116. Lamentável!

  5. Daniel Moreira

    19/05/18 at 20:12

    Não sou conhecedor profundo, mas me parece que a vantagem de ser patrimônio nacional são os recursos facilitados pra restauros. Quanto à Fenadoce, é uma iniciativa privada. É o momento do ano em que as doceiras ganham dinheiro. É uma questão de mercado o valor praticado do doce. Se não desse certo, não estaria na 26ª edição. Poderia ser melhor? Com certeza. Mas aí, que surja algum empreendedor pra atuar no que acredita ou propor uma parceria, né?

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Pergunte à Alexa, é um caminho sem volta

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O mundo tem parecido uma grande confusão. É difícil decifrar o tempo vivendo nele, mas aquela sensação tem a ver com o aumento da produtividade. Em séries antigas de tevê, como Jornada nas Estrelas e Perdidos no Espaço, os personagens não fazem trabalho braçal. Máquinas e robôs fazem tudo. É o que está acontecendo.

Nos últimos anos, a produtividade acelerou muito, assim como o desemprego. Tudo agora é virtual, no celular. Os bancos, os escritórios, dois exemplos, não têm mais quase funcionários. A gente sabia que ia acontecer, como sabe que, logo ali, não se vai mais usar gasolina para mover veículos. De uma hora pra outra a mudança vem, o mundo vira do avesso e revoluciona a vida das pessoas.

Antes a economia era estável, por quê? Porque tudo era essencial. Hoje, com a produtividade alta, a maioria das coisas deixou de ser essencial. Agora compramos uma caneta por achá-la bonita, não porque precisamos dela. Roupas, a mesma coisa. Muitas coisas estão assim. Carros, tendo transporte de aplicativo, pra que comprar?

Quando há uma crise, a economia tranca porque 95% das coisas que compramos foi porque nos convenceram a comprar. Não são necessárias, e, ainda mais depois da pandemia, nos demos conta de que amos muito bem sem elas.

Nesse mundo novo, estamos sendo obrigados a inventar necessidades pra justificar o nosso trabalho. Mais ou menos como o barman que faz malabarismo com os copos pra se diferenciar.

Se a economia tranca e resolvemos economizar, só compramos comida e água; é o que todo mundo faz. Então, a economia tem que ser muito mais bem istrada, para não ter esses solavancos. Tudo mudou, e isso ficou mais claro nos últimos cinco anos. É como a água que vai batendo num castelo de areia, numa hora ele cai.

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Nos próximos anos, vão ocorrer mais modificações.

Estão tentando obter energia por fusão nuclear. Já estão conseguindo, falta controlar a reação, para poder concentrá-la.

Uma quantidade mínima de hidrogênio, elemento mais abundante no universo, se transforma numa quantidade colossal de energia, e limpa. Assim, uma pequena usina — instalada digamos em São Paulo — poderá fornecer energia para todo o Brasil, a custo baratíssimo.

Quando controlarem o H, vão acabar as hidrelétricas, acabar a extração do petróleo para uso combustível. Petróleo poderá ser usado ainda, mas na petroquímica (nylon, plástico etc.).

Já estão fabricando em laboratório até alimentos ricos em proteína como substitutos da carne, e mais baratos. Daqui 20, 30 anos, áreas onde hoje se planta e há gado vão ficar pra vida selvagem. Vastas áreas serão devolvidas à natureza. Dois terços do Brasil, estima-se.

Outra coisa que vai evoluir é a IA, ela sabe tudo. Pergunte à Alexa. Ela te responde tão rápido, que nem precisa pensar. IA, ela sabe tudo. Pergunte à Alexa.

Ela te responde tão rápido, que nem precisa pensar.

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A liberdade sagrada das redes

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Noutro dia escrevi um texto sobre a cisão no vínculo entre as pessoas e o meio em que vivem, responsabilizando parcialmente as novas tecnologias de comunicação. Disse: “Se por um lado as tecnologias deram voz à sociedade, por outro, nos têm distraído da concretude do mundo, de interação mais hostil, levando-nos a viver em mundos paralelos”. E: “No mundo moderno, não habitamos mais exatamente nas cidades, mas sim no mundo virtual, um refúgio, retroalimentado pelo algoritmo, onde não há frustrações, mas sim gratificações instantâneas”. Bem, esse é um lado da questão. E não é novo.

Desde Freud se sabe que, diante do trauma, a criança dissocia-se para á-lo, refugiando-se na neurose, uma estratégia de defesa. Pois, assim como a criança abalada pelo trauma, as pessoas, diante das escalabrosidades do mundo concreto, fazem igual: elas podem se retirar para o mundo virtual, guardando, daquele, uma distância.

O outro lado da questão, o reverso da moeda, é que, sem as novas tecnologias de comunicação, a voz traumatizada da sociedade permaneceria atravessada na garganta, sem chance de extravasar-se.

A possibilidade de expressão liberou uma carga de justos ressentimentos contra os limites da política, as injustiças, o teatro social. De súbito, tivemos uma ideia do tamanho da insatisfação com os sistemas de vida, ando publicamente a protestar, em alguns casos chegando à revolução, como ocorreu na Primavera Árabe, onde as redes sociais cumpriram um papel fundamental.

Pois não é por outra razão que os donos do antigo mundo estão incomodados e querem controlar a liberdade de expressão, especialmente a velha imprensa, os monopólios empresariais, os sistemas políticos totalitários. Enfim, todos aqueles para quem a internet e as redes sociais ameaçam seu poder, ao por de pernas pro ar as certezas convenientes sobre as quais se assentaram.

Fato. As inovações desarranjam os mercados e os modos de vida. Toda inovação faz isso. É o preço do progresso. Mas, assim como é impossível voltar ao tempo do telégrafo (imagine o desespero nas Bolsas de Valores), é impensável retroagir ao mundo exclusivo da prensa de Gutenberg. Porque as descobertas, afinal, permitem avançar nos arranjos produtivos: propiciam economia de tempo, dinheiro e, no caso da comunicação, ampliam a liberdade, seu bem mais precioso. Pode-se dizer que não estávamos preparados para tanta liberdade súbita, e que venhamos, neste momento, usando-a “mal”. Contudo, parece razoável dizer que, à medida que o tempo e, estaremos mais e mais preparados para lidar com a liberdade e seus efeitos.

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Com todos os defeitos que a vida tem, é preferível mil vezes, ao controle da palavra, a liberdade de dizê-la. Quem pode afirmar (ou julgar) o que é verdadeiro e o que é falso, senão as pessoas mesmas, em última análise, de acordo com suas percepções e as pedras em seus sapatos? Pois hoje, depois de provarmos a liberdade trazida pelas novas tecnologias, mais do que nunca sabemos que a imprensa, em sua mediação da realidade, é falha, e como o é!

É interessante (e triste) ver como, após a criação da internet e das redes, grande parte da imprensa, ao perder o monopólio da verdade, se vêm tornando excessivamente opinativa e crítica das novas tecnologias. Deveria, sim, era aprimorar-se no trabalho para prestá-lo melhor. Acontece que — eis o ponto — como a velha imprensa não é livre de fato, como depende do financiador, muitas vezes de governos, ela vê nas novas tecnologias de ampla liberdade uma ameaça à velha cadeia de produção acostumada a filtrar o que valia ser dito, e o que não valia, em seu óbvio interesse, hoje nu, como o rei da história.

Além de tudo, há essa coisa interessante: a percepção. Para alguns pensadores do novo mundo, o que chamamos de realidade é uma simulação, no que concordo. Segundo eles, cada um de nós só tem o às coisas através dos sentidos (olfato, visão, tato, audição, paladar). Porém, como cores, cheiros, paladares etc. não existem no mundo concreto (são imateriais), sendo portanto simulações percebidas pelos sentidos (pessoas veem cores em diferentes matizes, quando não divergentes, como os daltônicos), aqueles pensadores sustentam que o mundo como o percebemos seria resultado exclusivo dos nossos sentidos. Assim, a única coisa real seria a razão. É o que diz Descartes, para quem a razão é a única prova da existência. “Penso, logo existo”.

Como amos o mundo virtual pelos mesmos sentidos com que amos o mundo concreto, estando entrelaçados, não haveria diferença entre eles. Logo, não deveríamos condenar o mundo virtual, mas sim o explorarmos melhor. Eu acredito que é assim.

Uma vez provadas as inovações, não é possível retroagir. Podemos, isso sim, é refinar, em decorrência delas, o nosso comportamento.

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