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Pelotas e RS 1f523i

Memórias de um peloteiro 3m2k5r

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Não é preciso recorrer à ciência para itir que as lembranças da juventude se avivam na memória das pessoas mais velhas.

Por isso, em homenagem aos amigos e parentes de Pelotas, lembro aqui minha chegada à Princesa. Foi nas vésperas do feriadão de Finados de 1961.

Em pleno final de outubro eu havia entrado em férias antecipadas porque tinha ado por média em todas as matérias do terceiro ano ginasial e, portanto, estava apto a pedir transferência da minha escola em Cachoeira do Sul para a quarta e última série de um dos grandes colégios pelotenses.

Deixa eu me gabar um pouco: raros alunos tinham notas suficientes para se livrar dos exames de fim de ano mas, fora meus familiares, ninguém sabia dessa minha vitória.

Com um mês de antecedência, havia fechado meu boletim. Podia enfim dispor de todo meu tempo. É claro que precisava ajudar em casa, mas isso não era nada difícil.

Não havia muito o que arrumar na nova morada, que ficava na parte de trás de uma casa com fachada para a avenida Fernando Osório, na divisa das Três Vendas com as Terras Altas.

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Era estranha aquela dupla construção feita em épocas bem diferentes. Na parte da frente, mais moderna, as duas peças estavam alugadas a uma família que não tivera tempo de se mudar e ali ficou enquanto toda a propriedade trocava de dono.

Na prática, os Petersen se tornaram nossos inquilinos involuntários. O marido, faceiro e barrigudo, era caminhoneiro e ava fora a maior parte do tempo. Meio que imitando o pai, os dois guris viviam pela rua, de modo que a casa ficava toda para a mãe, falante e espaçosa.

Como banheiro, eles usavam o sanitário anexo à parte dos fundos, o que exigia uma caminhada ao relento. À noite, no inverno, é possível que usassem urinóis.

Na parte de trás, só ível por uma porta lateral, dispúnhamos de cinco peças para três pessoas: eu, meu irmão caçula e minha mãe, que só de vez em quando recebia a visita de meu pai, envolvido com suas lavouras no vale do Jacuí, a 350 quilômetros de Pelotas.

É verdade que a mudança foi precedida da compra de alguns móveis, pois minha família, de tanto se mudar para moradas precárias na zona rural, foi ficando sem os apetrechos da vida moderna.

A última morada fora numa casa de madeira com água de poço e “casinha” nos fundos — situação comum na vida de agricultores itinerantes, desses que plantavam em terras arrendadas.

Hoje em dia, embora morem na cidade, os arrendatários respondem por dois terços da produção de arroz do Rio Grande do Sul. Para poder continuar os estudos, os filhos maiores moravam em casas de parentes na cidade. Meu caso.

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A mudança para uma cidade maior configurava uma substancial melhoria de vida. Pelo menos para mim, foi uma promoção, uma vitória. Eu saía de um quartinho improvisado na pensão familiar do meu tio materno e ia morar numa casa própria em outra cidade bem mais adiantada.

Foi com essa convicção que, terminadas minhas tarefas domésticas, montei na minha nova bicicleta Monark e saí pedalando a ver como era a vida nas Terras Altas das Três Vendas.

O feriadão de Finados fazia o bairro borbulhar. Muita gente na avenida, um formigueiro nas calçadas tomadas por grama alta e resíduos de construções, aquela zorra dos subúrbios das cidades brasileiras.

Fui e voltei pela avenida no afã de identificar os pontos-chave do bairro. Indiscutivelmente o grande ponto de referência era o canal de esgoto a céu aberto ao lado da avenida de mão única.

Havia ali um líquido que, aparentemente, não corria para lado nenhum, mas ficava meio escondido pela vegetação que crescia viçosa, alimentada pela umidade rica em nutrientes vindos das residências e fábricas da avenida — matadouros de porcos e processadoras de pêssegos.

(Lembro da vez em que o garoto vizinho chegou-se à casa todo sujo: havia saído de bicicleta para buscar leite. Por incrível que pareça, ele costumava buscar o líquido com o fervedor, um recipiente de alumínio que se levava diretamente ao fogo, para esterilizar o leite mediante fervura. Pois o guri vinha todo faceiro com o fervedor cheio até a metade um litro de leite) numa das mãos, tendo a outra livre para segurar o guidão da bicicleta.

Na real, ele gambeteava, sem segurar o guidão. Anoitecia. Provavelmente ofuscado pelos faróis de um carro, ou após dar uma olhada para trás, projetou-se canal adentro, de onde emergiu assustado, mas sem ferimento ou machucado, exceto na autoestima. E sem o leite.)

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A meio quarteirão de casa, um letreiro gravado em duas colunas de concreto plantadas no começo de uma rua anunciava: VILA BROD. Rua de terra com casas simples e terrenos baldios.

No fim da rua, a 600 metros da avenida principal, começava um mato ralo de eucaliptos. Ao lado, um campo de futebol, duas goleiras e, no fundo, um galpãozinho usado como vestiário dos atletas. No mesmo espaço, havia um balcão usado como bar em dias de jogo.

Naquele dia, havia um jogo amistoso. O time da casa estava em campo. Vestia camisetas xadrez em preto e branco. Eu nunca tinha visto coisa igual. Como seria o nome do clube?

A informação veio logo: Esporte Clube Camponês… Mais rural, impossível. Logo me senti em casa na incrível Vila Brod. O reduto dos meus brothers.

Quando o jogo terminou, fiquei por ali, na beira do campo, novato disponível para aderir ao grupo. Enquanto os atletas foram descansar, a miuçalha improvisou um racha. Logo me convidaram para participar. Fui o último a ser escolhido, mas não é assim que as coisas começam?

Bastou meia hora de pelada para me incorporarem ao juvenil do time. No dia seguinte, sábado, Finados, haveria um treino de chuteiras contra o time B. No domingo, um jogo amistoso do time principal.

Em menos de 24 horas, eu estava inserido no time das Três Vendas das Terras Altas. Essa acolhida na periferia de Pelotas foi um bálsamo para o recém-chegado de uma cidade distante.

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Conexão Tambury – Pelotas 1y2bz

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Agora que Anthony está viúvo, emborcou na depressão. De repente a vida perdeu o sentido, bem como o trabalho que faz. Ele é repórter na Gazeta de Tamburi, cidade tão pequena quanto pobre em fatos de expressão que justifiquem a existência de um jornal diário impresso.

Para esquentar a mornidão do noticiário, ele é obrigado pelo patrão a escrever sobre pautas que os leitores sugerem e, em geral, envolvem a si próprios como personagens na notícia. Coisas como o caso de um morador que toca saxofone soprando o instrumento com o nariz. Ou o da moradora cuja parede de casa desenvolveu uma mancha que lembra ‘misteriosamente’ a face de Jesus. Matérias assim, prosaicas. Porém que os habitantes gostam de ver publicadas, pelo que, em retribuição ao reconhecimento, assinam o jornal, audando-o a manter-se vivo.

A cidade em que moro não é exatamente como a fictícia Tambury da série inglesa After life. Para começo, existe. Fica no sul-sul do Brasil, a um par de horas prudentes de carro até o Uruguai, parece uma lágrima pingando do mapa e não é tão pequena quanto. É um pouco maior. Porém, assim como em Tamburi, as notícias por aqui se repetem e repetem como os cavalinhos de um velho carrossel.

O Sol brilha. Domingo tem maratona do Sesc. A chuva cai e inunda. Autoridades sobrevivem de revender progresso. A Lua aponta de noite. Verbas de restauração arquitetônica de prédios tombados são liberadas. A umidade embolora até os nervos. Para alegria da indústria de preservação, as restaurações não duram três anos. Corações sentem saudade de épocas menos opacas e, o vazio, nós o preenchemos incensando personagens mais ou menos ilustres. Todos os dias pelo menos uma pessoa morre de fato na cidade. Já a maioria de nós procura se dar bem com todos antes que seja tarde, inclusive a imprensa, alheia ao seu papel original de fiscalizar o poder público; pelo contrário, dele se financiando com mão frouxa.

Com o correr dos anos, que aqui parecem ar mais rápido por iguais, tudo se torna familiar, até as excentricidades. Um morador local conhecido como “Megafone ”, por exemplo. Ele não fala. Ele se pronuncia – sempre aos berros – até quando cochicha, concentrando, em sua voz de galo rouco, a ampla indignação com as auroras impossíveis, com a matação do tempo numa terra que soa carente de validação, daí que a tudo edulcora, sem distinção, sem mérito indiscutível. Entre outros excêntricos, há também um gigante de chapéu verde que toca cavaquinho na rua, materializando uma metáfora.

Visto de longe, o músico dá a impressão de que, transido por terrível comichão na barriga, ele a coça desesperadamente, o que combina à perfeição com as quinas da cidade, a poesia dos periféricos e a urgência por beleza. O gigante insiste em embalar a vida com música. Ocorre que sua caixa de coleta, pousada rente ao seu posto num banco do eio, a os dias cheia de ingratidões, o que, aliás, é outra não novidade por aqui. Mesmo assim, ele dá-se à vista, embora sem Sol, em gélido ar, decidido a levar adiante seu frenesi, aquecendo culturalmente o nosso Sul. Excêntricos. Eles são a carne viva da sociedade. Sua expressão última e verdadeira.

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Há uma história dos anos 70, uma joia do espírito produzida pela nossa inteligência, que expressa – com exceções – uma verdade dolorida sobre nós. Uma constatação sabiamente embalada em humor, essa faculdade vital, por suavizar os dramas, balancear a realidade e evitar que enlouqueçamos. Ela envolve um costureiro e uma noiva.

M. era famoso, sobretudo pelo manejo de tesouras verbais. Terminando de provar no espelho o vestido de casamento que ele confeccionara, a noiva verberou: “Acho que ficou mais ou menos”. M. reagiu: “Aqui em Pelotas tudo é mais ou menos. Eu sou mais ou menos. Tu és mais ou menos. O vestido é mais ou menos. De modo que ficou perfeito”.

Eu mais ou menos não me conformo com isso, embora minha inconformidade seja tão inútil quanto tocar sax com o nariz. Quase ninguém em minha terra parece interessado, de fato, na música. Apenas em sobreviver. Tudo piora quando o dia nubla e a chuva cai.

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Início das obras do novo Hospital Escola da UFPel completa 30 dias 6o2z22

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Há 30 dias foi dado mais um o importante para a construção do novo Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Após a implantação do canteiro de obras, no mês de abril, teve início na etapa de preparação do solo, marcando o começo da construção de um complexo hospitalar, moderno e estruturado, que promete transformar o atendimento à população e qualificar ainda mais o ensino na área da saúde.

O início dos trabalhos concentrou-se na preparação da área, com o fechamento do perímetro do terreno, retirada de árvores necessárias para a implantação do projeto e início da terraplenagem, em 12 de maio, etapa essencial para garantir a estabilidade da futura edificação. A previsão é de que a obra seja concluída em 36 meses, com entrega estimada para o primeiro semestre de 2028.

No último fim de semana foi iniciada demolição da estrutura de vigas e colunas localizada na parte de trás do prédio do Ambulatório Central do HE-UFPel. A demolição dessa área será realizada somente aos fins de semana, para não impactar no funcionamento do Ambulatório.

A construção do novo HE está sob responsabilidade do Consórcio Novo Hospital Escola Pelotas, composto pelas empresas LACA Engenharia (representante oficial do consórcio), CDG Construtora e Multisul Engenharia — todas com experiência consolidada em obras de grande porte no setor público e hospitalar. A próxima fase será o início das fundações, previsto para cerca de 15 dias após o término da terraplenagem.

A obra está sendo monitorada de perto por equipes técnicas do Setor de Infraestrutura Física do HE-UFPel, em conjunto com o Serviço de Manutenção Predial, Projetos e Obras, ligado à Diretoria de istração e Infraestrutura da Rede Ebserh.

As equipes acompanharão cada etapa para garantir que o projeto seja executado conforme as especificações técnicas, normas de segurança e prazos definidos. Para o chefe do Setor de Infraestrutura Física, Rodrigo Kuhn, gerenciar um contrato de uma obra de R$ 274 milhões é um grande desafio. “Como contratante, nossa responsabilidade vai muito além de liberar pagamentos. Desde o início, temos a missão de garantir que todas as condições contratuais sejam cumpridas, especialmente o cronograma da obra. Isso envolve reuniões regulares, relatórios de progresso e, muitas vezes, a necessidade de tomar medidas rápidas para contornar imprevistos”, afirma.

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Compensação ambiental e sustentabilidade

A retirada de árvores, necessária para a execução da obra, foi devidamente autorizada pela Secretaria de Qualidade Ambiental (SQA). Como contrapartida, está em andamento o projeto “Juntos Podemos Mudar o Mundo”, que reforça o compromisso do Hospital Escola com a sustentabilidade e com a educação ambiental.

Por meio da iniciativa, o HE realiza a distribuição mensal de cerca de 50 mudas de árvores nativas e frutíferas a pacientes que recebem alta hospitalar. As mudas são fornecidas pelo Centro Agropecuário da Palma da UFPel e entregues aos pacientes antes da alta, incentivando o plantio e a consciência ambiental. Com isso, o HE-UFPel alia a responsabilidade legal de compensação ambiental ao compromisso institucional com a promoção da sustentabilidade e do cuidado com o meio ambiente.

Um novo capítulo para o Hospital Escola

A construção da sede própria do HE-UFPel é aguardada há décadas pela comunidade acadêmica e pelos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, o Hospital Escola funciona em uma estrutura locada e com serviços descentralizados em diferentes pontos da cidade, o que impõe desafios logísticos e limitações operacionais para a assistência, o ensino e a gestão.

Mesmo diante dessas restrições, o hospital consegue prestar atendimentos de média e alta complexidade, sendo referência em diversas especialidades e mantendo-se como importante campo de prática para os cursos de graduação e pós-graduação na área da saúde da UFPel. Com o novo complexo, será possível reunir todos os serviços em um só espaço, qualificando o cuidado ao paciente, otimizando recursos e ampliando a integração entre assistência, ensino, pesquisa e extensão, pilares de um hospital universitário. Para Ricardo Peter, Gerente istrativo do HE-UFPel, o novo Hospital Escola simboliza um marco histórico: “É a concretização de um planejamento estratégico construído a muitas mãos, com responsabilidade e visão de futuro. Cada avanço reafirma nosso compromisso com uma estrutura pública de saúde mais eficiente, integrada e orientada para oferecer excelência no atendimento aos usuários do SUS”.

Impacto social e regional

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Mais do que uma obra física, o novo Hospital Escola representa um investimento direto na qualidade de vida da população da região sul do Rio Grande do Sul. Como unidade de saúde com atendimento exclusivo pelo SUS, o HE-UFPel atua de forma gratuita e com base em princípios públicos, promovendo atenção humanizada, formação crítica e técnica de profissionais, além de produzir conhecimento científico voltado às necessidades da sociedade.

Segundo o superintendente do hospital, professor Tiago Collares, o novo Hospital Escola representa muito mais que uma estrutura moderna: “É um compromisso inabalável com a responsabilidade social que temos para com Pelotas e região. Temos consciência que assumimos a missão de oferecer atendimento de excelência, formação qualificada de profissionais e pesquisa inovadora. Para transformar esta missão em realidade, uma gestão com energia, determinação e visão de futuro é imprescindível”, afirma.

“Estamos mobilizando toda a nossa equipe com foco e vigor, pois sabemos que só com trabalho incansável e comprometido poderemos superar desafios e seguir em frente, rumo ao hospital que nossa comunidade merece. Neste caminho, contamos com o apoio decisivo do Governo Federal, cujo investimento, através do PAC, foi crucial para alavancar este projeto transformador. E, acima de tudo, reconhecemos e agradecemos o apoio constante da sociedade de Pelotas e região – é a confiança, a cobrança justa e o incentivo de cada cidadão, o que fortalecem nossa determinação diária. Juntos, com gestão ágil, apoio institucional e o coração da comunidade, estamos construindo não apenas um novo hospital, mas um legado de saúde, esperança e desenvolvimento para as gerações futuras”, completa Tiago Collares.

Entorno

Toda obra de grande porte gera impactos para a comunidade vizinha, especialmente nos estágios iniciais, com movimentação de solo, barulho e mudanças no entorno. Entretanto, o HE-UFPel acredita que os benefícios a médio e longo prazo serão imensamente superiores: um hospital universitário completo, público, gratuito e de excelência. O novo complexo qualificará aquela região da cidade, que tem potencial para se tornar, em breve, o “Vale da Saúde” — um polo de referência em cuidado, ciência e desenvolvimento sustentável.

Sobre o HE-UFPel

O HE-UFPel faz parte da Rede Ebserh desde 2014. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, istra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.

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por Clarice Becker com revisão de Vanda Laurentino

Foto: Mariana Duarte

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