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O desastre de Tchernóbil, 32 anos depois 2s2z24

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No dia 26 de abril de 1986, uma explosão seguida de incêndio derreteu o coração da usina nuclear de Tchernóbil, situada no norte da Ucrânia, perto da Bielorrússia, dois países naquele tempo integrantes da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

Foi um acidente causado por erros humanos numa instalação construída às pressas em plena guerra fria entre URSS-EUA, as potências mundiais que se ameaçavam mutuamente de destruição com bombas atômicas.

Entre o dever de socorrer a população regional e a necessidade de salvar a própria imagem, o governo Gorbatchov, mentor da perestroika (abertura), gerou um sentimento de ambiguidade que ajudou a acelerar o colapso da URSS, consumado em 1989 com a queda do Muro de Berlim.

A ordem inicial foi de enviar soldados e técnicos com a missão de evacuar a população ameaçada pela radiação (estrôncio, césio e outros minerais radiativos), que se propagou para outros países da Europa, provocando terror em milhões de pessoas (a Alemanha desativou suas usinas nucleares e ou a investir em energia eólica e solar).

Em cidades e vilas da Ucrânia e da Bielorrússia milhares de famílias foram obrigadas a deixar suas casas e seus pertences, sendo alojadas em acampamentos distantes, como refugiados de uma guerra louca.

Algumas pessoas voltavam clandestinamente às suas origens para buscar algum objeto mas muitos, principalmente agricultores, continuaram a tocar sua vida em cantos remotos do território contaminado e ali ficaram correndo risco de morte por leucemia e outras doenças.

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Livro Vozes de Tchernóbil

Morreu muita gente, muitos ficaram inválidos e o que de mais sólido se tem hoje em dia é “Vozes de Tchernóbil”, livro de 384 páginas com depoimentos organizados pela jornalista ucraniana Svetlana Aleksiévitch, que por esse trabalho ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 2015.

O livro recupera de forma pungente o impacto causado pelo acidente nuclear. Apresenta uma centena de depoimentos em que cada pessoa conta como se sentiu e se comportou diante da explosão. Há casos singelos de donas de casa que não compreenderam a profundidade da tragédia e, também, depoimentos indignados de cientistas acusando o governo de imperícia e muitas pessoas de inconsciência e irresponsabilidade.

O povo russo se orgulha de viver vitoriosamente diante de adversidades como o inverno gelado e as guerras, mas o desastre de Tchernóbil minou a autoestima da maioria dos russos.

A população não sabia de nada e recebeu a notícia primeiro com incredulidade, depois com raiva, perdendo enfim a confiança nas autoridades, que se acusavam mutuamente. O acidente arruinou o sentimento comunitário e estimulou o ressurgimento do individualismo, abrindo espaço para a implantação do liberalismo em sua versão mais ferrenhamente egoista.

Um dos destaques do livro é o depoimento de Viktor Latun, torneiro mecânico que foi para Tchernóbil como soldado e, usando a máquina fotográfica para registrar o que via com espanto, acabou se tornando uma testemunha fundamental da história.

Instalações da usina abandonada

“Por que me tornei fotógrafo? Porque me faltavam palavras”, ele explicou, com simplicidade. Mesmo assim, o depoimento verbal de Latun é espantoso. Um trecho da página 296:

“Temíamos a bomba, o cogumelo atômico, e olhe o que se ou. Hiroshima foi algo pavoroso, mas compreensível. Já isso… Sabemos como uma casa se incendeia por causa de um fósforo ou de um projétil, mas isso não se parecia com nada. Chegavam rumores de que era um fogo extraterrestre, que nem era fogo, mas uma luz. Uma reverberação. Uma aurora. Não de um azul qualquer, mas de um azulado celestial. E que a fumaça não era fumaça. Os cientistas, que antes ocupavam o trono dos deuses, agora haviam se convertido em anjos caídos. Em demônios. E a natureza humana seguia sendo tal qual no ado, um mistério para eles. (…) A casa camponesa bielorrussa! Para nós, da cidade, não é mais do que uma casa, uma construção para se viver. Mas para eles era todo o seu mundo. O seu cosmos. Você atravessa as aldeias vazias e te dá um desejo tão grande de ver um ser humano… Vimos uma igreja arruinada, entramos nela. Aroma de cera. Dava vontade de rezar. Eu queria recordar tudo isso e me pus a fotografar. Essa é a minha história.”

LEMBRETE DE OCASIÃO

“A Secretaria de Turismo de Kiev oferece viagens turísticas a Tchernóbil. Foi elaborado um itinerário que tem início na cidade morta de Prípiat. Lá os turistas podem observar os altos prédios abandonados… Da cidade de Prípiat, a expedição prossegue até as aldeias mortas, onde lobos e javalis selvagens, que se reproduziram aos milhares, correm soltos entre as casas… O ponto alto da viagem é a visita ao Abrigo, nomeado mais apropriadamente de sarcófago. Construído às pressas sobre os escombros do quarto bloco energético explodido, o sarcófago está há tempos juncado de fendas através das quais ‘supura’ o seu conteúdo mortal, os restos do combustível nuclear…“

* Extraído de jornais bielorussos de 2005 e publicado como posfácio do livro Vozes de Tchernóbil, de Svetlana Aleksiévitch (Cia das Letras, 2015). 

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* Publicado originalmente em O Século Diário.

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Brasil e mundo 12h5a

Pergunte à Alexa, é um caminho sem volta 3k3f1r

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O mundo tem parecido uma grande confusão. É difícil decifrar o tempo vivendo nele, mas aquela sensação tem a ver com o aumento da produtividade. Em séries antigas de tevê, como Jornada nas Estrelas e Perdidos no Espaço, os personagens não fazem trabalho braçal. Máquinas e robôs fazem tudo. É o que está acontecendo.

Nos últimos anos, a produtividade acelerou muito, assim como o desemprego. Tudo agora é virtual, no celular. Os bancos, os escritórios, dois exemplos, não têm mais quase funcionários. A gente sabia que ia acontecer, como sabe que, logo ali, não se vai mais usar gasolina para mover veículos. De uma hora pra outra a mudança vem, o mundo vira do avesso e revoluciona a vida das pessoas.

Antes a economia era estável, por quê? Porque tudo era essencial. Hoje, com a produtividade alta, a maioria das coisas deixou de ser essencial. Agora compramos uma caneta por achá-la bonita, não porque precisamos dela. Roupas, a mesma coisa. Muitas coisas estão assim. Carros, tendo transporte de aplicativo, pra que comprar?

Quando há uma crise, a economia tranca porque 95% das coisas que compramos foi porque nos convenceram a comprar. Não são necessárias, e, ainda mais depois da pandemia, nos demos conta de que amos muito bem sem elas.

Nesse mundo novo, estamos sendo obrigados a inventar necessidades pra justificar o nosso trabalho. Mais ou menos como o barman que faz malabarismo com os copos pra se diferenciar.

Se a economia tranca e resolvemos economizar, só compramos comida e água; é o que todo mundo faz. Então, a economia tem que ser muito mais bem istrada, para não ter esses solavancos. Tudo mudou, e isso ficou mais claro nos últimos cinco anos. É como a água que vai batendo num castelo de areia, numa hora ele cai.

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Nos próximos anos, vão ocorrer mais modificações.

Estão tentando obter energia por fusão nuclear. Já estão conseguindo, falta controlar a reação, para poder concentrá-la.

Uma quantidade mínima de hidrogênio, elemento mais abundante no universo, se transforma numa quantidade colossal de energia, e limpa. Assim, uma pequena usina — instalada digamos em São Paulo — poderá fornecer energia para todo o Brasil, a custo baratíssimo.

Quando controlarem o H, vão acabar as hidrelétricas, acabar a extração do petróleo para uso combustível. Petróleo poderá ser usado ainda, mas na petroquímica (nylon, plástico etc.).

Já estão fabricando em laboratório até alimentos ricos em proteína como substitutos da carne, e mais baratos. Daqui 20, 30 anos, áreas onde hoje se planta e há gado vão ficar pra vida selvagem. Vastas áreas serão devolvidas à natureza. Dois terços do Brasil, estima-se.

Outra coisa que vai evoluir é a IA, ela sabe tudo. Pergunte à Alexa. Ela te responde tão rápido, que nem precisa pensar. IA, ela sabe tudo. Pergunte à Alexa.

Ela te responde tão rápido, que nem precisa pensar.

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Cultura e entretenimento 2w6762

O esquema fenício, novo filme de Wes Anderson 6g4xh

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O diretor e roteirista Wes Anderson é conhecido pelo seu estilo único e marcante, com imagens perfeitamente simétricas, personagens estranhos e um humor bem peculiar. Talvez a grande crítica às suas produções seja exatamente essa, de seu estilo ser sempre o mesmo, como se o cineasta não se renovasse. Porém, entre seus trabalhos mais recentes, nenhum tem tanto estilo quanto O Esquema Fenício.

Na trama, o excêntrico magnata Zsa-Zsa Korda (Benicio Del Toro) já sobreviveu a sucessivas tentativas de assassinato e é pai de nove filhos homens e uma única menina, a freira Liesl (Mia Threapleton). Ele determina que ela seja a única herdeira de seu patrimônio, mas antes, pede a ajuda da filha para garantir que seu projeto de vida finalmente saia do papel. Agora, eles precisarão viajar pelo mundo, acompanhados pelo tutor Bjorn (Michael Cera), a fim de negociar pessoalmente com seus parceiros investidores.

O longa é a sexta parceria entre Wes Anderson e o roteirista Roman Coppola, que iniciou em Viagem a Darjeeling (2007). Vale lembrar que 2023 foi um dos anos mais produtivos de Wes Anderson, que além de lançar Asteroid City nos cinemas, fez um projeto de quatro curtas-metragens com a Netflix, adaptando contos do autor Roald Dahl. Todos são imperdíveis, em especial A Incrível História de Henry Sugar,que rendeu a Anderson o primeiro Oscar de sua carreira.

Mesmo sem a profundidade narrativa de seus outros filmes, o diretor consegue, graças a química entre Benicio Del Toro e Mia Threapleton, explorar um relacionamento genuíno entre pai e filha. Além do ótimo trio principal, vemos participações de luxo de habituais colaboradores do diretor, como Willem Dafoe, Tom Hanks, Bryan Cranston, Jeffrey Wright, Bill Murray, Scarlett Johansson e Benedict Cumberbatch.

Trabalhando pela primeira vez com Wes Anderson, a fotografia de Bruno Delbonnel é fantástica, abrangendo toda a cenografia do filme, que tem locações de encher os olhos, e que já encantam logo na sequência inicial. Destaque para as belíssimas sequências em preto e branco, que mostram o mundo onírico do protagonista. Além disso, a trilha sonora é do lendário compositor Alexandre Desplat, parceiro de Anderson desde O Fantástico Senhor Raposo (2009), e vencedor do Oscar com O Grande Hotel Budapeste (2014).

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Para os que acompanham a carreira do diretor, e fãs como eu, os temas comuns de sua filmografia estão presentes aqui: relações familiares, natureza humana e humor improvável. No entanto, o filme traz dois novos elementos, incomuns em seu universo, o suspense e a ação. Reafirmando sua identidade, embora sem o brilho de produções anteriores, Wes Anderson prova com o visualmente ambicioso O Esquema Fenício que ainda é capaz de entregar boas histórias.

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