Déborah Schmidt
Cinebiografia sobre Tonya Harding, Eu, Tonya aborda a história de como a patinadora no gelo conseguiu superar a infância pobre e tornar-se campeã nacional, ganhar a medalha de prata no mundial de 1991 e participar de duas olimpíadas. Porém, ela ficou realmente conhecida por ser suspeita de ter mandado quebrar a perna de sua principal concorrente durante as Olimpíadas de inverno de 1994.
A ex-patinadora foi a primeira norte-americana, e segunda no mundo, a realizar o salto triplo axel. Mas Harding era constantemente rejeitada pelo seu comportamento e pela sua aparência, considerada um requisito neste esporte.
Apesar do inegável talento, ela viu seu nome envolvido em um crime. Às vésperas dos Jogos Olímpicos de Inverno de 1994, sua principal adversária, Nancy Kerrigan, foi brutalmente atacada e afastada das competições. Tonya, o ex-marido, Jeff Gillooly, e o segurança pessoal dela foram responsabilizados judicialmente pelo episódio.
Em seu início, o filme mostra Tonya Harding (Margot Robbie), a mãe LaVona Golden (Allison Janney) e Jeff Gillooly (Sebastian Stan) relembrando o caso que pôs fim à sua carreira.
Além disso, vemos que desde pequena a protagonista já exibia talento para a patinação artística no gelo. Tonya cresce e se destaca como uma promessa no esporte, mesmo aguentando os maus-tratos e as humilhações da mãe.
Dirigido por Craig Gillespie, do excelente A Garota Ideal, a grande qualidade desta cinebiografia é não se levar a sério. Sarcástica, debochada e irônica, a protagonista sintetiza o tom do filme.
Há ainda uma dedicação eficiente em não se agarrar demais à Tonya. Assim, o filme consegue abordar o abuso e a agressão domiciliar, o rigor excessivo em competições esportivas e o sensacionalismo da mídia, sem jamais perder o foco na trama principal.
O roteiro de Steven Rogers se estrutura na forma de falso documentário, genialmente absorvendo tudo que houve de patético na vida da protagonista. Como o título evidencia, o filme assume o ponto de vista da patinadora, levando às sucessivas tentativas de explicar suas atitudes, utilizando como maior trunfo a quebra da 4ª parede, onde os personagens não apenas falam com a câmera, mas também interrompem a ação para falar diretamente com o público.
Ainda cabe observar como não há pena na forma como a protagonista é retratada. Ela é, naturalmente, resultado do meio em que vive. Da mãe rigorosa e agressiva, do esporte ao qual se dedicou e do casamento precoce e violento.
Em sua melhor atuação até agora, Margot Robbie vive diversas fases de Tonya Harding. Destaque para os momentos quando ela exala felicidade e, principalmente, na dolorosa decisão da sentença do juiz, em uma cena arrebatadora.
Vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante, a fantástica Allison Janney rouba a cena com seu olhar fixo e visual excêntrico, impressionando como uma das piores mães da história do cinema. Eu, Tonya é uma cinebiografia criativa e um filme que é o resultado de uma direção consciente, roteiro inteligente e atuações memoráveis.